Cotas nas universidades públicas

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A UEM está discutindo se implanta ou não o sistema de cotas. Um dos conselheiros deu parecer favorável a implantação de cotas para alunos que estudaram em escolas públicos - estudantes de origem pobre.

O tema é complexo. Os negros também querem que a universidade reserve cotas para eles. A reitoria é favorável. Alguns departamentos são contra.

Os negros dizem que as cotas não são um favor da sociedade aos negros, mas uma forma de reparar um erro histórico.

Bem, o que dizer?

O sistema de cotas parece interessante - tem dado certo em países como os Estados Unidos. Entretanto, nossa realidade é muito diferente. Boa parte desses alunos que terão acesso à universidade pelo sistema de cotas (negros ou não) não receberam uma formação básica que garanta a eles a capacidade de acompanhar determinadas discussões acadêmicas.

Sei de um caso, em Londrina, de um índio que entrou pelo sistema de cotas na faculdade de Medicina. O rapaz está ilhado, porque não consegue entender o que se discute em sala.

Exemplos como este revelam que garantir vaga nas boas universidades públicas não assegura que esses alunos serão bem sucedidos.

Concordo que todos devem ter acesso a um curso universitário. Também não acho justo que vagas nas universidades públicas sejam ocupadas por quem teve dinheiro para receber uma boa formação, enquanto alunos mais pobres se vêem obrigados a procurar instituições privadas (pagando mensalidades e, muitas vezes, envididando-se para conseguir concluir o curso) que, muitas vezes, não oferecem a mesma estrutura das públicas.

Mas é justo tirar a vaga de quem investiu recursos, estudando em boas escolas, para conseguir uma vaga numa instituição pública renomada? Também não me parece justo. Isto sugere que estamos diante de um grande impasse.

Portanto, em vez de gastarmos forças e energias discutindo cotas, deveríamos debater - e cobrar - a necessidade de um ensino público (educação infantil, ensino fundamental e médio) de qualidade.

Como os reflexos disso só vão aparecer no médio e longo prazos, enquanto acontecesse as transformações necessárias no ensino básico, deveríamos manter as regras atuais das universidades públicas e assegurar, através de programas como o ProUni, um número maior de vagas para esses alunos (que estudaram em escolas públicas, negros, índios etc) em instituições particulares (pelo sistema de bolsas de ensino) - e os melhores deles conseguiriam vaga nas públicas passando no vestibular.

1 comentários:

Tiago Versuti disse...

A cota destinada a negros só serve para aumentar ainda mais a discriminação na sociedade. Perante a lei, somos todos brasileiros, é inaceitável sermos divididos entre os brasileiros brancos, negros, índios etc.
E a universidade é uma instituição de ensino superior, e como o nome sugere, é destinada aos superiores, intelectualmente falando. Nenhum tipo de cota deveria ser implantada nesse sistema; vejo que uma boa situação em que a cota pode ser implementada é para escolas de ensino fundamental e médio, para pessoas de baixa renda. Pessoas de baixa renda eu disse, e não negros. A chance deve ser dada no pilar de sustentação do ensino, para que todos tenham a chance de construir por si só o seu caminho para o futuro.
"Reparar danos históricos" é uma desculpa esfarrapada. Os japoneses foram bombardeados com bombas atômicas no passado e hoje são uma das maiores potências mundiais. Os alemães tiveram no passado a maior inflação já registrada na história, já tiveram um líder psicologicamente desequilibrado e hoje também são uma das maiores potências mundiais. Não tenho conhecimento de nenhuma reparação de danos históricos nestes países, eles se ergueram sozinhos. Os judeus já foram caçados como animais e dizimados, se reergueram e hoje em dia são detentores de grandes riquezas. O sucesso só pode ser alcançado a partir do momento em que há o compromisso e dedicação pessoal, a força de vontade para se esquivar de adversidades e perseguir seu objetivo.