Golpe na fila virtual

|

Governo estuda forma de coibir ação de atravessadores que vendem vaga na agenda de atendimento do INSS, causando lentidão no sistema

Marcelo Tokarski
Da equipe do Correio (Brasiliense)

Os tradicionais agenciadores de lugares nas filas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) estão de volta. Apesar de as intermináveis filas nas portas das agências da Previdência Social terem sido praticamente extintas após a adoção do agendamento prévio pelo telefone 135 ou pela internet, os golpistas encontraram outra forma de agir. Agora, vendem lugar nas filas virtuais do INSS. Além de extorquir os segurados que aceitam pagar por um “buraco” na agenda de atendimento, a ação dos espertalhões provoca lentidão no atendimento aos demais segurados da Previdência. Há casos em que somente a espera para conseguir dar entrada em um pedido de aposentadoria chega a superar quatro meses.

Para acabar com a farra dos agenciadores virtuais, o governo estuda uma série de medidas. Entre elas está a possibilidade de cancelar os agendamentos feitos com base em informações erradas, como telefones, nomes ou falsos números de cadastro. O problema só foi descoberto há mais ou menos três meses, quando o INSS detectou que praticamente um em cada três segurados que agendavam atendimento não compareciam no horário marcado.

A Previdência passou então a confirmar por telefone, com 72 horas de antecedência, a ida ou não do segurado à agência do INSS. Após esse procedimento ter sido adotado, o instituto já efetuou mais de 232 mil tentativas de confirmação. Em apenas 40% delas encontrou o segurado. Em 17% dos casos, estava errado o nome dele ou o número do seu telefone.

Como funciona
A ação dos golpistas revela casos gritantes. Os técnicos descobriram em São Paulo um mesmo agenciador que, utilizando-se de números de Inscrição do Trabalhador (NITs) falsos, havia marcado 552 agendas de perícias médicas. O atravessador então vendia os horários marcados para segurados do INSS. Depois, quando a pessoa que comprou chegava para o atendimento, dizia que houve um erro no atendimento telefônico e fornecia o verdadeiro NIT, conseguindo ser atendido no horário “reservado” pelo atravessador.

Em Uberlândia, um grupo de advogados agendava centenas de perícias para depois oferecer lugar na fila virtual a segurados. Nas cidades paulistas próximas ao estado do Paraná, os agenciadores adotaram outra tática. Marcavam uma série de perícias nas agências das cidades de São Paulo, congestionando a agenda, e ofereciam ao segurado um horário de atendimento no estado vizinho. O “serviço” incluía até mesmo o traslado entre as cidades.

Nas últimas semanas, o governo vem estudando uma série de medidas para acabar com a ação dos agenciadores. O ministro da Previdência Social, Luiz Marinho, chegou a se reunir com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para discutir o assunto e pedir auxílio da Polícia Federal (PF). Responsável pelos sistemas eletrônicos de agendamento, a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) também vem adotando uma série de mudanças nos sistemas para coibir a ação dos atravessadores.

Ontem, o ministro Marinho admitiu, por intermédio de sua assessoria de imprensa, a possibilidade de cancelar as agendas que forem marcadas com informações erradas, como nomes, telefones ou NITs falsos. “Não podemos brincar com as informações. Se as pessoas indicam um telefone errado e eu não a localizo, como faço para confirmar a agenda? Se a pessoa dá o número do NIT errado, como eu faço para efetivar o atendimento? Ou os nossos segurados colaboram ou vamos ter que pensar numa medida dura de gestão, que seria derrubar a agenda de quem forneceu dados incorretos”, afirmou o ministro.

Apesar de Marinho não ter feito referência aos agenciadores de lugar nas filas virtuais, na verdade a medida tem como objetivo dificultar a prática irregular. De acordo com levantamento do Ministério da Previdência, os estados com maior número de informações erradas são Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

0 comentários: