Uma entrevista...

Concedi entrevista a uma estudante de jornalismo da Faculdade Anhembi, de São Paulo. Carla López Calcines é venezuelana, está no Brasil há um ano e descobriu o Blog do Ronaldo meio por acaso. Gostou e elegeu-me para ser seu entrevistado, atendendo um trabalho acadêmico.

-Quando começou a escrever o blog, quais eram suas intenções?
Meu primeiro blog foi aberto em setembro de 2005. Eu era repórter de um jornal da cidade (jornal impresso). A intenção era discutir os bastidores de algumas reportagens - o comportamento do entrevistado, coisas curiosas e detalhes pequenos que não ganham espaço nas páginas de um jornal. Também queria ter a chance de opinar sobre alguns temas, afinal o repórter não expressa suas idéias, apenas relata os fatos.

-Por que optou por essa forma de expressão?
Pelos motivos acima. Ou seja, notava coisas curiosas que não eram tema para reportagens - até poderiam ser notas, mas eu não era colunista -, então o blog parecia ser uma boa alternativa. Também queria opinar sobre alguns temas, repercutir reportagens de colegas, falar sobre os vereadores - já que cobria política e, principalmente, a Câmara de Vereadores - etc.

-Como é sua rotina de postagens?
Escrevo menos do que gostaria. Não tenho renda com o blog e nem tenho essa intenção, pelo menos por enquanto. Portanto, escrevo dentro da minha rotina profissional. Como trabalho o diante inteiro diante de um computador e com a internet ligada, dentro das possibilidades, vou escrevendo... Ainda assim, posto mais do que a maioria dos blogueiros. Mas faço isto apenas de segunda a sexta-feira. O fim de semana é para descansar, desligar-se das questões cotidianas, viver e conviver com a família - além de cuidar do espírito.

-Como você decide os temas que vai abordar?
Primeiro, preciso ressaltar que entre a proposta inicial do blog e o que hoje faço existe uma diferença bastante significativa. Quando comecei, escrevia basicamente sobre as questões de Maringá. Depois, tornei-me âncora da CBN. Perdi o acesso direto que tinha aos fatos e os bastidores das notícias. Afinal, o apresentador está dentro do estúdio e produzindo na redação. Raramente nas ruas. Isso fez o blog mudar de perfil. Também havia a preocupação em não permitir que as pessoas confundissem os papéis - o de âncora da CBN e o de blogueiro. Mas isto é quase impossível. As pessoas confundem. Logo, como represento a imagem de um grupo de comunicação, passei a ter outro tipo de abordagem dos temas. E aos poucos fui tornando o blog cada vez mais pessoal e refletindo sobre questões que chamam a minha atenção - nem sempre a de outras pessoas. Portanto, objetivamente, os temas não são decididos previamente. Conforme "trombo" com alguma coisa que acho relevante, "penso alto" sobre ele.

-E de respostas aos comentários?
Praticamente eliminei os comentários anônimos. As pessoas aproveitam a chance do pseudônimo e do anonimato para verbalizar aquilo que nunca teriam coragem de fazê-lo se não estivessem escondidos atrás da tela do computador. Com isso, o blog ficou mais seletivo e publica hoje poucos comentários. Em algumas situações, repercuto o que dizem os leitores.

-Como você lida com as críticas?
Já me preocupei mais com isto. Hoje não me incomoda mais. Ninguém pode controlar o pensamento e a opinião do outro. Também é muito comum escrever com a intenção de transmitir uma idéia e o leitor entender uma outra coisa. Aí fica irritado, critica, fala que a gente é idiota e outras coisas do gênero. Não há o que fazer. É preciso aprender a conviver com as críticas.

-Quais as dificuldades de se manter um blog?
Uma delas tem a ver com a pergunta anterior. Quando se tem um blog, as idéias tornam-se públicas. Logo, passíveis de serem questionadas, criticadas. O problema é que existem pessoas que passivam a classificar o caráter do responsável pelo blog com base apenas em seus textos. Mas a principal dificuldade é manter a página. Ter sempre "pão quente", como diz a Rosana Hermann, do Querido Leitor. Não é fácil. Além da rotina de trabalho roubar a atenção do blog, nem sempre sobra tempo para escrever ou refletir sobre assuntos que até se considera importantes. Isto é um pouco frustrante.

-E as vantagens?
Conhecer pessoas, compartilhar idéias, fazer-se conhecido e exercitar a reflexão e a escrita.

-Como você analisa a blogosfera brasileira?
Tem muita coisa boa. Diferentes gêneros. Assuntos para todos os gostos. Obvio que nem todo blog é confiável. Tem muita bobagem escrita. Mas até isso tem valor pelo entretenimento e diversão que proporcionam. Mas os blogs possuem o grande mérito de, aos poucos, estarem provocando mudanças nas redações de jornais, tevês, rádios etc.

-Você acredita que os blogs podem ser um caminho para jovens jornalistas?
Creio que sim. Mas ninguém pode alimentar a expectativa de que vai fazer um blog e, inicialmente, ganhar dinheiro. Primeiro, porque credibilidade se conquista. No jornalismo, os profissionais conhecidos, ligados aos grandes veículos de comunicação, têm a chancela de um nome já construído. Gente que acabou de sair da faculdade não tem nada disso. Mas é preciso se aventurar, tentar. Com ética e dedicação, é possível ganhar espaço. Afinal, a rede se consolida como a principal ferramenta de interação e comunicação no planeta.

-É possível ganhar dinheiro com essa atividade?
Como disse, eu não faço dinheiro com o meu blog. Mas existem pessoas que hoje vivem dos blogs. Portanto, é possível. Mas, repetindo o que afirmei acima, ninguém vai conseguir uma boa remuneração nos primeiros meses - e quem sabe anos - nessa atividade.

-Quantos blogs você lê diariamente, pode citar alguns?
Diariamente, pelo menos uma dezena deles. Alguns, uma ou duas vezes por semana. Os blogs geralmente são mais interessantes que as páginas dos grandes veículos de comunicação.

-O que torna um blog interessante ou muito chato?
Quem o faz. Gente chata, tem blog chato. Gente interessante, inteligente, divertida faz bons blogs. Alguns - como eu - até se esforçam para tornar o blog mais interessante para o leitor. Até conseguem resultados parciais, mas o blog demonstra muito da personalidade de seu autor. Gente que consegue colocar no texto o seu carisma, empatia, capacidade de polemizar etc conquista leitores.