Maior esperança do Brasil, Jade Barbosa quer crescer
Dois meses depois do ouro no Pan, a carioca Jade Barbosa, de apenas 16 anos, mostrou que tem estrela e levou o bronze no individual geral no Mundial de Stuttgart, feito inédito para uma brasileira. Em entrevista à repórter Simone Evangelista por telefone, de Curitiba, a tímida ginasta confessa que o assédio a incomoda um pouco, assim como a pressão de ser a melhor do Brasil. Não é à toa que, entre seus planos para o futuro, está o de se livrar de sua marca registrada que conquistou o país, a fama de chorona. No entanto, para ela, a meta parece mais difícil de alcançar do que a nota máxima nas competições: "Sou perfeccionista, sempre fico chateada quando erro".
Jade: Mais ou menos. Agora, já dá para sentir mais. Eu saio na rua e muitas pessoas vêm falar comigo, crianças, velhinhos...gente de todas as idades. O assédio é grande, mas eu tento levar uma vida normal. Às vezes, gostaria de não ser famosa.
GLOBOESPORTE.COM : Assim como no Pan, você esteve muito perto do ouro no individual geral, mas caiu no último aparelho (o solo) e deixou a medalha dourada escapar. No entanto, diferentemente do que aconteceu no Rio de Janeiro, o nervosismo parecia bem menor. De lá para cá, você se sente mais amadurecida como atleta?
Jade: No Pan, foi muito difícil competir. Achei difícil me apresentar na frente de tanta gente, na minha cidade. Lá na Alemanha, a torcida também respeitava mais. Na hora da apresentação, não importava a ginasta, todos faziam silêncio absoluto. Gosto do carinho das pessoas, mas a gritaria no Rio de Janeiro atrapalhou um pouco.
GLOBOESPORTE.COM : Recentemente, o técnico Oleg Ostapenko afirmou que nem a Daiane dos Santos nem a Laís Souza têm competitividade por conta das dores. Você teme que isso aconteça com você?
Jade: Eu tento não pensar nisso, me assusta um pouco. Sou muito nova, mas sei que isso pode acontecer. Toda ginasta passa por lesões, isso é normal. Não faço nenhuma preparação especial para evitar isso, só o que todas as outras ginastas também fazem.
GLOBOESPORTE.COM : O Oleg é uma pessoa bastante rigorosa, enquanto você é uma menina bastante sensível. Como é a convivência com ele? É difícil ouvir tantas broncas a cada erro cometido?
Jade: Já me acostumei com o jeito dele. Cada técnico é um técnico e ele a Irina só querem o que é melhor para nós. Sei que, quando ele deixar a seleção, vai fazer muita falta, mas temos que continuar.
GLOBOESPORTE.COM : Depois do Pan, você ganhou muitos fãs pelo Brasil inteiro, mas as pessoas sabem muito pouco sobre a sua vida pessoal. Quais são seus hobbies?
Jade: Quando eu não estou treinando, gosto de ir à praia, ao shopping, adoro ir ao cinema. No Rio, eu tenho mais amigos do que aqui. Geralmente, eu acabo saindo com as meninas da seleção mesmo, somos quase uma família.
GLOBOESPORTE.COM : Mas não sobra muito tempo para se divertir como uma adolescente da sua idade, não é? Você se chateia por ter que se dedicar quase exclusivamente à ginástica?
Jade: Desde que você começa na ginástica, se sacrifica. Não dá para ficar indo a festinhas, mas é uma escolha que você vai fazendo. Quando eu comecei, tinha uns cinco, seis anos. Vi as ginastas na televisão e gostei. Sempre soube que seria difícil, mas é a minha paixão.
GLOBOESPORTE.COM : Você está no primeiro ano do Ensino Médio. Pretende fazer alguma faculdade depois que encerrar a carreira no esporte?
Jade: Quero fazer educação física, mas acho que dá para conciliar as duas coisas. Não sei, talvez eu faça outras faculdades também, gosto muito de estudar.
GLOBOESPORTE.COM : E a fama de chorona? Você já se acostumou a ela, ou isso te incomoda de alguma forma?
Jade: Eu não choro tanto assim. O que acontece é que sempre me pegam quando eu estou chorando. Quem sabe um dia essa fama não acaba né? Bem que podia acabar...Quem sabe um dia?
GLOBOESPORTE.COM : Medalha de ouro no Pan, bronze no Mundial de Ginástica, se preparando para as Olimpíadas de Pequim...tudo isso aos 16 anos de idade. Até onde você espera chegar na ginástica? Tem alguma meta para o futuro?
Jade: Muita gente me pergunta até onde eu posso chegar, mas não fico pensando muito nisso, procuro treinar para mim. Já sou perfeccionista o suficiente. Meus técnicos falam bastante isso, eu sempre quero repetir todos os exercícios até acertar. É bom por um lado, mas atrapalha por outro. Eles sempre dizem: "Está bom, você não precisa ficar triste se errar". É difícil, eu sempre fico chateada, mas acho que estou no caminho certo.